O encontro

16/09/2019

Em um fim de semana prolongado, três casais e uma amiga solteira partem para Búzios. Sol e calor, amigos de anos, tudo para um fim de semana cheio de diversão e troca de memórias. E assim foi! Eu presenciei uma tarde, em que as quatro mulheres decidiram sair sozinha para um chá, que virou um chopinho e terminou com garrafas de vinho e mpb.

Ana era casada e mãe de dois meninos, parou de trabalhar quando engravidou do primeiro e amava a vida de dona DA casa, como ela gostava de enfatizar; Laura, uma jornalista de sucesso, mãe de uma menina, que via pouco, devido à correria do trabalho; Sara não tinha filhos, era advogada e pensava em ser juíza; Liana, a única solteira do grupo, não era lésbica, nem estava muito interessada nos homens também, mas falava em adotar um bebê, quando se organizasse para isso.

A conversa girou em torno de tudo, mas não se sabe direito o porquê e, se foi a partir do vinho, as moças começaram a falar da maternidade. Para Ana, a maternidade era a melhor coisa do casamento, da vida... Os filhos eram sua razão de acordar todos os dias e não parecia haver nenhum arrependimento em ter deixado o trabalho por eles. Laura temia não ser tão boa mãe, devido à correria da carreira e dizia que apesar do imenso amor, não sabe se foi boa ideia a decisão de ser mãe. Talvez até o casamento fosse melhor sem filhos. Vai saber... Sara enfaticamente defendia sua opção. "Ter filhos acaba com as chances de crescer profissionalmente e ainda deteriora dia após dia a relação", esbravejava. Enquanto as três expunham seus pontos de vista, de maneira um pouco mais enfática, a medida que as garrafas de vinho se esvaziavam, chegando mesmo à uma discussão séria em que suas vidas eram melhores que as das demais, Liana observava tudo calada. Parecia tentar formular suas decisões, nas frustrações e sucessos das amigas.

Eu, na mesa ao lado, ouvia a discussão e percebia que as três jamais chegariam a um consenso, nem tampouco ajudariam Liana a decidir seus passos futuros. A troca de experiências é válida. Como mãe, acho que a vida sem filhos deve ser vazia, Acredito que, para algumas amigas, a minha vida é um pouco limitada com eles. E é!

Nada que uma mãe diga mudará o desejo de outra mulher de ser mãe! Nem as maravilhas desse amor incondicional, nem as dificuldades que os filhos acabam impondo à carreira e, realmente, até no relacionamento. Nem vice versa. Decidir pela maternidade não pode ter a ver com desistir da carreira, nem com achar o amor da sua vida, ou com ser solteira ou casada, lésbica, bi ou hétero... A decisão de ser mãe deve ser tomada única e exclusivamente pela mulher, quando e se ela quiser. Por mais feministas que formos, somos nós que geramos, amamentamos. Muitos direitos e divisão de tarefas estão mudando e evoluindo. Mas, gerar e amamentar não são coisas que  não dá pra passar. O tal dom materno, o desejo de gerar outra vida, de amar incondicionalmente não está em todas nós. Não dá pra forçar a barra e impor o papel, como a uma atriz. O filme maternidade não acaba em 2 horas.

As quatro mulheres saíram meio trôpegas, mas felizes. A discussão calorosa não chegou a nenhum lugar, como eu previa, e elas terminaram a noite falando do vinho e do filme novo do Bradley Cooper. Chegue a  avistá-las pela manhã, na praia, com maridos e filhos, ou não. E cada uma estava muito feliz com sua opção de vida. E é assim que deve ser. Porque ser feliz também não significa achar tudo ótimo, o tempo todo. Significa simplesmente aceitas as consequências das escolhas feitas e seguir, sobretudo, em frente.


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